José Álvaro de Lima Cardoso*
No Brasil, as projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre se concentram entre avanço de 0,5% e 0,8% em relação ao último trimestre de 2011. Para este quadro de baixo crescimento do PIB nos primeiros meses do ano tem contribuído muito o comportamento da indústria. Frente a março de 2011, o total da produção indústrial apontou queda de 2,1% em março de 2012, sétimo resultado negativo consecutivo nesse tipo de comparação. Os índices do setor industrial para o fechamento do primeiro trimestre de 2012 foram negativos tanto no confronto com igual período do ano anterior (-3,0%), como na comparação com o trimestre imediatamente anterior (-0,5%), na série com ajuste sazonal.
Os problemas do baixo crescimento e da estagnação industrial têm várias causas, mas a sobrevalorização do câmbio é central nesse debate. Entre janeiro de 2003 e fevereiro de 2012, a taxa real efetiva de câmbio da economia brasileira sofreu uma valorização de 37,32%. No mesmo período, a participação da indústria de transformação no PIB caiu de 18,01% para 14,59%. Dentro dos marcos de um sistema de livre flutuação cambial, o governo vem forçando para evitar uma maior valorização do real.
Já há certo tempo estabeleceu um piso implícito para a taxa de câmbio e o dólar vem se mantendo na faixa de R$ 1,80, sinalizada como patamar mínimo, à custa das insistentes intervenções do Banco Central do Brasil (BCB), que vem comprando a moeda mesmo quando o fluxo está negativo. O problema é que, segundo os especialistas em comércio exterior, a cotação na faixa de R$ 1,80 ainda é insuficiente para permitir a redução dos preços de exportação e, ao mesmo tempo, garantir recuperação da margem de lucro dos exportadores. Além disso, para os exportadores, pior do que um dólar baixo é uma cotação instável.
A decisão do governo parece ser a de preservar indústria de transformação, mesmo com o pesado custo de manter as reservas elevadas (US$ 370 bilhões no final de abril). O problema é que os juros brasileiros, fator de atração para capitais internacionais que acabam apreciando o real, apesar de ter atingido taxa mínima histórica no dia 03 de maio, continuam altíssimos para os padrões internacionais. Em alguns países as taxas de juros reais são negativas. Sem contar que, no varejo, as novas taxas brasileiras, mesmo nos bancos públicos, superam os 50% ao ano para empresas, e, para pessoas físicas chegam a até 1,99% ao mês (no caso de financiamento de veículos).
Não é por acaso que, no primeiro trimestre de 2012, o lucro líquido dos quatro maiores bancos que atuam no país foram, novamente, elevadíssimos: o Itaú Unibanco registrou lucro líquido de R$ 3,426 bilhões; o Bradesco encerrou o 1º trimestre de 2012 com lucro líquido de R$ 2,79 bilhões; Santander, R$ 1,77 e o Banco do Brasil, o lucro líquido no 1º trimestre foi de R$ 2,5 bilhões.
Além disso, mesmo com as várias medidas que o governo tomou nos últimos anos para tentar inibir a entrada do capital estrangeiro especulativo no país, continua intenso o fluxo de capitais para investimento direto no Brasil. Em 2011, o Brasil recebeu US$ 65,5 bilhões e só ficou atrás do Reino Unido (US$ 77,1 bilhões), da China (US$ 202,4 bilhões) e dos Estados Unidos (US$ 210,7 bilhões). Para este ano, a previsão é de ingressar, no mínimo, US$ 50 bilhões em investimento estrangeiro direto no país.
É esse fluxo de capital que mantém pressão sobre o câmbio e ajuda a financiar o déficit em conta corrente. Investimento externo direto, apesar de mais desejável que os capitais especulativos, significa, como se sabe, desnacionalização da economia, porque a maioria deste dinheiro vem para aquisição de empresas, o que significa mais remessa de lucros no futuro.
É certo que, se o governo e o BCB, conseguem impedir que o câmbio real caia abaixo de um determinado nível, fica claro que a sobrevalorização da moeda não é um fenômeno inevitável. Seria possível fazer uma desvalorização administrada da taxa de câmbio. De qualquer forma esta medida é impopular, já que a desvalorização da moeda significaria queda do salário real e risco de aumento da inflação. Mas não adianta criticar o “tsunami monetário” promovido pelos países desenvolvidos se o país não controlar adequadamente os próprios fluxos de capitais.
Se fizer o que tem que ser feito, o Brasil tem como enfrentar a crise mundial e o problema da desindustrialização. Neste enfrentamento, o país conta com alguns trunfos, com destaque para: 1) expansão do mercado interno via geração de empregos; 2) melhoria dos indicadores das contas públicas; 3) redução da vulnerabilidade externa.
*Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.